quarta-feira, 13 de junho de 2007

2001: Uma Odisséia no Espaço

2001: A Space Odyssey
EUA, 1968
Direção: Stanley Kubrick

Kubrick apresenta as imagens mais eloqüentes da história do cinema em 2001: Uma Odisséia no Espaço, a obra máxima da ficção científica. A abertura do filme, como era comum na década de 60, são alguns minutos de tela preta, mas, nesse filme, a escuridão tem um significado próprio: a aurora da vida, o período que antecede a gênese; em seguida, o filme nos leva para a aurora do homem.

Em época primitiva, macacos – ou antecessores do homem, se preferir – vivem momentos difíceis de sobrevivência devido à estiagem, eles vivem em meio à fartura de carne animal, mas os símios não têm arma natural capaz de abater a presa – o que nos diz isso é o ataque de um tigre a um primata – por isso se alimentam das escassas ervas. As últimas poças d’águas são disputadas entre as tribos. Em seguida temos a cena que dá a primeira virada ao filme: a aparição de um monólito negro, algo perfeitamente lapidado e muito além da compreensão dos primatas. A pedra é uma forma de representação da tecnologia, tendo em mente que os macacos não são capazes de fazer tal trabalho artístico, o monólito é uma forma alienígena. E ele instiga a tribo ao uso da ferramenta, é quando o macaco descobre que o osso de um animal morto pode ser usado como arma, uma clava primitiva. A expressão de curiosidade é sutil, em seguida ele dilacera a ossada, cena perfeitamente casada com a música arrebatadora de Strauss Assim Falou Zaratustra (não por coincidência o título de um livro de Nietzsche). E então, no que ficou marcado como a maior elipse temporal do cinema, a arma empunhada pelo símio é jogada ao alto e evolui-se para uma nave espacial, um salto de quatro milhões de anos representado pela ferramenta mais simples à mais complexa.

Um dos mais belos planos do filme. O sol e a lua crescente compõem um símbolo do zoroastrismo, representa o eterno conflito entre a luz e a escuridão.

A maestria de Kubrick está na forma como ele nos informa. Penso que um diretor menos genial descreveria tudo com uma narração em off, o que tiraria a magnitude da obra e deixaria com cara de um documentário clássico do Discovery Channel. Kubrick faz com que nos sintamos junto aos personagens, sentido todas as suas aflições e euforias. Quando chegamos ao espaço já colonizado pelo homem, experimentamos todo o tédio que os cerca por meio das habitualidades do dia-a-dia: prática de exercícios físicos, alimentar-se de comidas prontas, sol artificial.

O filme é implícito, taciturno e de ritmo lento, Stanley Kubrick dar-se ao luxo de mostrar vários planos que descrevem o cenário e o contexto (e vão muito além disso); na cena em que o astronauta Poole (Gary Lockwood) é arremessado ao espaço, há uma seqüência de três minutos com a respiração aflitiva da vítima; talvez por esses motivos 2001 foi tachado por muitos críticos como um filme enfadonho e maçante. Na première, em Nova York, boa parte do público saiu antes da metade do filme, o que levou Kubrick a dar uma cadência mais rápida eliminando 19 minutos da película original.

2001 está mais atual do que nunca e continuará sendo por séculos, a epopéia humana mostra em sua cadeia evolutiva como nós criamos tecnologia para nos destruir, isso é bem mais evidente nos dias de hoje do que em 1968, ano de lançamento do filme. Na obra, os humanos não passam de meros reparadores, HAL-9000 é o sexto tripulante e comandante da nave Discovery na missão Júpiter. E é apenas um computador. A outra parte da tripulação é composta por cinco astronautas humanos, três deles em estado de hibernação. Por meio de inteligência artificial, ele tem o domínio das operações. O conflito entre a máquina e o homem tem início quando HAL prevê a falha total de uma antena, uma afirmação dúbia para o astronauta Bowman (Keir Dullea), que vai certificar-se do relatório e confirma sua previsão: houve uma falha no computador. Temendo futuros erros, os astronautas acordados pretendem desligar o computador, tarefa nada fácil, já que HAL é onipresente na Discovery. Bowman e Poole vão a uma pequena nave que pode operar independente da nave principal onde compactuam contra a máquina, mas o perspicaz HAL-9000 lê os lábios de seus antagonistas. Bowman é único sobrevivente do embate.

Ao término do conflito Bowman é deliberadamente lançado a uma dimensão além Júpiter e chega a um enigmático quarto. O tempo vai se encarregar de livrar-se da carcaça humana: o corpo. No auge da senilidade, a vida de Bowman não se esvai, em vez disso o monólito aparece mais uma vez para que o humano dê seu próximo passo evolutivo e o torne-se a criança-estrela, apresentada na forma de um embrião espacial.

Um dos planos da seqüência em que Bowman viaja a Júpiter. Não parece um espermatozóide indo em direção ao óvulo (quarto)?

Ao longo do filme podemos ver – e ouvir – alguns paralelos com o zoroastrismo, religião da antiga Pérsia, penso que Kubrick nos remete à filosofia de Nietzsche. Em seu livro Assim Falou Zaratustra – Zaratustra, conhecido pelos gregos como Zoroastro, é o fundador da religião – o filósofo fala, entre outros, do mito do além-homem (ou super-homem em algumas traduções), o ser que está acima do pecado original, acima de todos os outros homens. As últimas imagens, após os créditos, são como as cenas iniciais, somente a escuridão, penso nisso como uma alusão ao mito do eterno retorno.

3 comentários:

Bohemios de bar disse...

MUITO BOM.
UM BELO ENSAIO.DE UM BELO FILME.

SE TIVE UM TEMPO ENTRA LÁ NO MEU BLOG. bohemiosdebar.blogspot.com

dimitri disse...

Só ma dúvida: a música Also Spracth Zaratustra (Assim falou Zaratustra) não seria de Wagner, clássico que junto com Nietzsche, é injustamente acusado de inspirar o Nazismo? (Não que não tenha inspirado, mas foi involuntário).

Você citou Strauss como compositor.

Unknown disse...

Sendo vc um amante da 7a Arte e entusiasta de 2001 de Stanley Kubrick, estou certo de q vai gostar destes clipes editados por mim os quais evidenciam uma curiosa sincronia entre o filme e a 5a Sinfonia de Beethoven:

http://www.youtube.com/watch?v=AmQPTSfE1kM

http://www.youtube.com/watch?v=NihSprngqhE

Congruências Cósmicas ou um fruto oculto do preciosismo técnico do diretor, o importante é q é DIVINO de qualquer forma!

Tratando-se desse filme, não se trata propriamente de quem explica melhor, mas de acrescentar os questionamentos + relevantes a tudo q já foi e continuará a ser dito sobre 2001.