quarta-feira, 20 de junho de 2007

Nosferatu, uma Sinfonia de Horror

Nosferatu, eine Symphonie des Grauens
Alemanha, 1922
Direção: F. W. Murnau

Baseado no romance Drácula, de Bram Stoker, esta é uma das mais belas expressões artísticas da história do cinema. Murnau preferiu Nosferatu ao título do livro por ser uma palavra mais soturna, mas também usou um termo presente na literatura de Stoker; na época em que escreveu, achava que a palavra era a tradução de “vampiro”, na verdade, é Transilvânia. A mulher de Stoker, herdeira dos direitos autorais do então falecido marido, proibiu a reprodução do filme, considerou um plágio. Na época, as leis sobre direitos autorais não eram muito claras, principalmente acerca do cinema. Prana Filmes, estúdio que fez Nosferatu, simplesmente não se preocupou em pedir os diretos à viúva de Stoker. O filme chegou a ser queimado, mas para felicidade do cinema no mundo todo, algumas cópias estavam salvas em outros países.

O vampiro de Murnau, chamado de Graf Orlok, é uma figura horripilante – talvez não nos dias de hoje –, quase uma mistura de homem e rato, as orelhas são semelhantes às de morcegos, suas unhas longas fazem os movimentos das mãos parecerem aranhas; enquanto a maioria dos filmes de vampiro traz a criatura com os dentes caninos transformados em presas, como os cães, Nosferatu tem os dentes centrais, como os roedores; ele também não é nenhum pouco sedutor, é engenhosamente pestilento. Max Schreck, que interpreta Conde Orlok – por funesta coincidência seu nome significa “terror” ou “medo” em alemão, na época achava-se que era um truque publicitário –, não se vale da teatralidade que a maioria dos vampiros adotou (Bela Lugosi, em Drácula, de 1931, por exemplo), ele atua de forma hipnótica a fim de nos passar tensão. Um dado curioso: Max Schreck não pisca os olhos uma única vez enquanto encena.

Hutter é um vendedor de imóveis que recebe um recado de Knock, lacaio de Orlok, sobre o desejo do seu mestre de comprar uma casa em sua cidade, Bremen. Hutter viaja à Transilvânia sem temer os rumores sobre a vilania de Nosferatu. Chegando ao castelo do conde, Orlok tem um estranho desejo pela mulher de Hutter, Lucy, após ver o camafeu com a imagem dela, logo ele se apressa em fechar o negócio e ir morar próximo a Lucy. Um das fraquezas do vampiro de Murnau é não poder se afastar da terra onde morreu, como ele deseja incondicionalmente ir até Lucy, ele decide levar em caixões o solo pestilento. Muitas das cenas nas quais o Conde aparece foram filmadas de dia, o que parece ilógico tendo em visto que os vampiros têm vulnerabilidade à luz solar, na época, era comum tingir a película do filme de azul para representar a noite, os equipamentos tinham pouca ou nenhuma condição de fazer filmagens externas à noite. E a luz foi usada de forma magistral, bem característico do expressionismo alemão. A sombra antecedendo a aparição da criatura virou um clichê do gênero horror. “Nosferatu não é um filme em preto e branco, mas em sombra e luz.” diz Herzog, que viria a fazer uma refilmagem em 1979.

Uma das cenas que foi gravada em plena luz do sol.

Quando chega à pacata cidade de Bremen, Orlok traz consigo a praga. A população está fadada ao extermínio, mas Lucy descobre as fraquezas vampíricas: repulsa a cruz e outras que estão obsoletas aos vampiros contemporâneos. Para matá-lo, uma pessoa pura de coração deve mantê-lo ao seu lado até o nascer do sol. E ela se entrega à criatura, dá o seu próprio sangue, distraindo-o como uma criança bebendo leite, até que amanheça e a luz solar destrua-o.

Versão do filme com a película pintada. Era comum tingir o filme de azul para representar a noite.

Nosferatu ficará na história do cinema por anos vindouros, mas não pelo seu horror, que já não tem o mesmo efeito que teve, mas pela arte que imprime.

No Brasil, há uma versão do filme cujas imagens são colorizadas (tingidas, como na imagem acima) e com trilha sonora não original. Faça um favor a si mesmo, passe longe dessa edição, ela é repleta de efeitos especiais que tiram a essência do filme.

A versão original do filme pode ser vista na íntegra no Google Vídeos. O texto é em inglês, como o filme é mudo, só um pouco de conhecimento na língua inglesa é suficiente para compreendê-lo.

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