domingo, 21 de fevereiro de 2010

O Garoto

The Kid
EUA, 1921
Direção: Charles Chaplin


Na filmografia de Charles Chaplin há dois filmes especialmente autobiográficos, Luzes da Ribalta, acerca da aposentadoria de um artista, e O Garoto, sobre sua infância.

Chaplin nasceu em família pobre e complicada, a mãe não tinha condições psíquicas de criá-lo, foi internada como louca; o pai, alcoólatra, o abandonou ainda na infância. Condições que o levaram a viver em orfanato. O orfanato onde Charles Chaplin viveu parte de sua infância ainda existe, no Reino Unido, encoberto pelas fuligens do mundo industrial.

Subiu ao palco pela primeira vez aos cinco anos de idade, no Music Hall, em Londres. Chegou aos Estados Unidos com a companhia de comédia Fun Factory. Em 1919, junto com Mary Pickford, Douglas Fairbanks e D. W. Griffith, fundou a United Artists e se tornou um dos diretores mais independentes do cinema.

Aos 28 anos tornou-se rico interpretando um pobretão. Astro da comédia-pastelão, Chaplin dirigiria pela primeira vez um filme emotivo. Muitos duvidaram da qualidade de um filme que misturava humor e drama. Difícil duvidar de algo que leva a assinatura de Chaplin. O resultado é uma comédia potencialmente emotiva. Essa definição está estampada na frase de abertura de O Garoto: “Um filme com um sorriso e, talvez, uma lágrima”. Nesse sentido, O Garoto é uma prévia de Luzes da Cidade, também dirigido por Chaplin, talvez o filme mais emocionante de todos os tempos.

A cena do garoto sendo levado a força ao orfanato, aos prantos, é quase um resgate da memória de Chaplin. Jackie Coogan não atuou, mas chorou de verdade! Como é comum, o garoto sofreu chantagem emocional para gravar cena de choro. Seu pai disse que, se não chorasse, ele iria realmente ter de viver no orfanato. Coogan foi um dos atores preferidos de Chaplin com o qual contracenou, além de ser bastante amigável, ele tinha facilidade de seguir ordens e executá-las bem.

A estreia de Jackie Coogan foi num outro filme de Chaplin, o curta-metragem Um Dia de Prazer (A Day’s Pleasure, 1919), que funcionou como teste para a criança. Depois de O Garoto, Coogan tornou-se uma estrela, a primeira criança a conseguir tal façanha entre as celebridades de Hollywood.

A imagem de Carlitos e o garoto sentados à porta da casa transcendeu uma imagem de cinema e se tornou um símbolo de fraternidade. Representado por um pai desnaturado porém muito carinhoso e um filho que aprendeu a ser picaresco com pai, ainda cedo, para se alimentar.

O Garoto foi a prova de que é possível cruzar dois gêneros do cinema bastante diferente, uma mistura que incomum até então. O resultado foi um equilíbrio perfeito entre sorriso e lágrimas.

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